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“Jovens, consumo e prevenção: as representações sociais do álcool na mídia” em debate no Fórum do Álcool

“Jovens, consumo e prevenção: as representações sociais do álcool na mídia” em debate no Fórum do Álcool

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Aconteceu nesta segunda-feira, 20, no auditório Marcelo Küfner, na sede do Ministério Público, reunião do Fórum Permanente de Prevenção à Venda e ao Consumo de Bebidas Alcoólicas por Crianças e Adolescentes. “Jovens, consumo e prevenção: as representações sociais do álcool na mídia”, foi o tema do encontro, que contou com a palestra do jornalista e professor Francisco Amorim.

A abertura do evento foi realizada pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, Denise Casanova Villela, que ressaltou a relevância do tema. “O consumo de álcool pelas crianças e pelos adolescentes merece a nossa atenção máxima, por isso debater a questão da mídia e como os produtos – novelas, filmes, comerciais – incentivam ou educam é fundamental para o sucesso do nosso propósito, que é a prevenção. Por isso nos propusemos esse tema e, pela aceitação do público, temos a certeza de que estamos no caminho certo. A palestra foi rica em dados e informações que certamente vão municiar, da melhor maneira possível, os participantes aqui presentes”, concluiu a promotora.

Também participaram do debate a promotora da Infância e da Juventude Inglacir Delevadova, a promotora-corregedora Ana Adelaide Brasil Sá Caye, o promotor de Justiça de Faxinal do Soturno, Claudio Antonio Rodrigues Estivallet Júnior, e psicóloga do MP Ana Paula Lourenço.


O PALESTRANTE

O palestrante Francisco Amorim é jornalista, mestre e doutor em sociologia. Durante uma hora e meia ele abordou o álcool na estrutura familiar, a cultura do brinde, a trajetória que provocou a redução no uso do cigarro, a relação entre drogas lícitas e ilícitas e as correlações entre esses temas na maneira como a mídia trata o assunto, seja incentivando, coibindo ou se omitindo da discussão. O professor resaltou a diferença entre gerações de pais e filhos, que se reflete também nos conteúdos e plataformas acessados e a necessidade de compreender esses lugares de fala das crianças e dos adolescentes para que se possa, efetivamente, prevenir o consumo de álcool.




Imprensa MP: Como o senhor avalia a importância do Ministério Público trazer esse debate sobre “Jovens, consumo e prevenção: as representações sociais do álcool na mídia”?
Francisco Amorim: Acredito que o debate precisa ser transdisciplinar. O que vimos hoje foi um debate pautado pelo diálogo de diferentes correntes do pensamento. A questão do álcool não é somente uma questão clínica, nem só uma questão educacional, ou que possa ser analisada apenas pelo viés sociológico. É uma questão que integra muitos saberes. A questão de jovens presentes ao Fórum faz com o que o debate não seja mais encastelado em conhecimentos específicos, porque se o jovem bebe na rua ou bebe em casa, ou se a mídia, no caso dessa discussão de hoje, tem ou não tem um papel, a gente tem que compreender o impacto nessas diferentes dimensões. Então, ter um lugar, um momento em que se pare para discutir de maneira franca e sem rótulos, se avança muito na prevenção do consumo do álcool por crianças e adolescentes.


Imprensa MP: O senhor trouxe a questão do álcool, também permeada pela questão do consumo de drogas ilícitas e abordando também o aspecto do mercado que existe em torno disso. Falou também sobre a transformação que acorreu nas últimas décadas e provocou a redução no consumo do cigarro. Todas essas questões precisam ser levadas em conta quando se discute o consumo do álcool?
Francisco Amorim: Alguns sociólogos e antropólogos informam que o consumo de substâncias entorpecentes acontece há muito tempo, por isso precisamos discutir esse consumo a partir de parâmetros que levem em consideração os aspectos culturais. Não podemos ter a proibição como única ferramenta de controle do uso de drogas, mas sim um processo de educação sobre drogas. A criança, o adolescente e também os pais precisam ter a clareza de que o álcool traz a desinibição por um lado, e por isso é consumido, causa, também, satisfação nos momentos de confraternização, mas, por outro lado, provoca danos gravíssimos à saúde. A discussão no mercado das drogas lícitas ou ilícitas precisa se dar da seguinte maneira: você precisa explicar para o jovem o efeito em nível micro (pessoas) e no nível macro (social) do consumo dessas substâncias. No caso do álcool, o que nós temos hoje é um jovem que visualiza o uso da bebida como alternativa para a busca de autonomia ou como sendo um momento de passagem para a fase adulta. Ele percebe o seu pai consumindo álcool num momento de confraternização, comemoração, ou num momento de angústia. Ele vai associar o consumo a esses momentos. Então, se ele estiver triste, ele vai pensar que pode beber, se ele quer confraternizar com os amigos, ele vai escolher a bebida, para comemorar algo, ele vai abrir uma espumante. Nós vivemos no que chamo de “cultura do brinde”, por isso é difícil exigir que o jovem se descole do agir do pai em relação ao que esse pai diz para o jovem não fazer (mas ele mesmo faz).


Imprensa MP: Então o senhor entende que é preciso trazer a família para esse debate urgentemente?
Francisco Amorim: Exatamente. Quando falamos em conhecimento transdisciplinar, a instituição família é muito importante. O processo de primeira socialização acontece em casa e o adolescente compara o mundo ao que ele tem em casa, então é fundamental que os pais se agreguem a essa discussão que não é só policial, que não é só educacional (na esfera de instituições de ensino), mas também necessita de uma relação sincera em casa. Boa parte da cultura que eu chamo de “cultura do brinde” começa em casa.


Imprensa MP: Com relação às mídias, que é o tema desse Fórum, o senhor apontou aqui e mostrou dados que comprovam que as crianças e adolescentes não são mais telespectadores de TV, mas migraram para outras plataformas e redes sociais, em especial o Youtube, e que entender isso é fundamental para que se possa discutir o papel da mídia na prevenção. Como fazer isso?
Francisco Amorim: A publicidade já detectou essa migração. O jovem está nas redes sociais e vai para a TV aberta em momentos muito específicos, por exemplo assistir jogos de futebol. Porém, a maior parte do consumo se dá em canais independentes, administrados por “youtubers” ou influenciadores digitais, muitas vezes locais, ou seja, amigos e conhecidos que produzem informações. Sendo assim, se queremos discutir uma educação para a mídia, nós temos que entender e levar em consideração as plataformas usadas pelos jovens, quem eles estão consumindo e quais as linguagens adotadas por essas pessoas. Mas essa aproximação não significa aproximar a nossa narrativa discursiva às deles, mas compreender que o nosso lugar de fala é distinto, porque eles não querem que a gente fale como eles, mas a gente precisa entender como eles falam para conseguir acessar a lógica de construção e de consumo de informação que eles adotam hoje.


PRESENÇAS

Também participaram da reunião representantes da Secretaria de Segurança Pública do RS, Polícia Civil, Departamento Policial sobre Drogas do RS, Brigada Militar do RS, Detran/RS, Associação de Orientadores Educacionais do RS, Sociedade de Pediatria do RS, Associação Gaúcha de Terapia Familiar, conselheiros tutelares, representantes do Conselho Municipal de Assistência Social de Porto Alegre, pais, alunos e representantes de escolas particulares e públicas, estudantes e representantes de universidades, alunos de pré-vestibulares, advogados e representantes de produtoras de eventos.



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