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Caso Bernardo: réus são interrogados na última etapa da instrução processual

Caso Bernardo: réus são interrogados na última etapa da instrução processual

grecelle

Duraram aproximadamente cinco horas os interrogatórios dos réus Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz, todos acusados pelo Ministério Público por participação no assassinato do menino Bernardo Uglione Boldrini, ocorrido em 4 de abril de 2014. Os trabalhos, que tiveram início às 9h30min e foram encerrados às 16h30min desta quarta-feira, 27, com uma hora de intervalo para o almoço, ocorreram no Salão do Júri do Fórum de Três Passos. A Promotora de Justiça Silvia Jappe participou da audiência, presidida pelo Juiz de Direito Marcos Luís Agostini. Também compareceram o Assistente de Acusação, Marlon Taborda, e os Advogados de Defesa dos réus.

O primeiro a ser interrogado foi o Médico Leandro Boldrini, pai da vítima. Ele negou participação no crime e atribuiu a autoria aos demais denunciados. Questionado pelo MP, o réu confirmou que foi procurado por pessoas próximas, que o interpelaram sobre o abandono afetivo da criança, entre elas uma Psicóloga, um Médico Pediatra que atendeu Bernardo e integrantes do Conselho Tutelar. O réu disse que entendeu como correta a avaliação feita por essas pessoas. Boldrini não soube confirmar se passou com o filho o último Dia dos Pais no qual ele estava vivo (testemunhas afirmam que nessa data a criança não almoçou com o pai e sim com um casal ao qual era bastante apegado, o que ocorreu um dia depois da gravação de um dos vídeos extraídos do celular do réu Leandro Boldrini).

A Promotora Silvia Jappe também perguntou o porquê de ele ter preferido ir a um casamento em Santo Ângelo e não ter comparecido à cerimônia de primeira comunhão de Bernardo, mesmo tendo sofrido um grave acidente de motocicleta dias antes. Boldrini disse ter achado que o filho não se importaria, pois não era muito assíduo às aulas de catequese (no entanto, a Promotora fez a ressalva de que a vítima era, inclusive, coroinha na igreja da cidade). Disse, ainda, que, apesar de estar se recuperando do acidente, optou viajar a outra cidade a ficar em Três Passos e comparecer na primeira comunhão, justificando que a viagem não era longa. Na sequência, então, a Promotora lhe perguntou se ele poderia ter voltado a fim de comparecer na festividade, tendo ele dito que, pela distância, sim, mas “que em geral essas festas vão até tarde”.

Leandro Boldrini foi perguntado, ainda, sobre os vídeos gravados por ele nos quais o filho aparece visivelmente transtornado e gritando por socorro. Segundo o réu, as gravações foram realizadas com o intuito “de se resguardar”. Apesar de Bernardo afirmar nas imagens que tinha marcas no corpo de agressões sofridas, Leandro disse que no máximo fazia a contenção do filho em determinados momentos. Silvia Jappe também fez referência às contradições dos dois depoimentos prestados por ele à Polícia. Em um primeiro momento, Leandro Boldrini afirmou que o relacionamento entre o filho e a madrasta, Graciele Ugulini, era bom. Porém, em outra oportunidade em que foi ouvido, dias após, classificou como “odiosa” a relação entre ambos. Ainda a respeito do relacionamento entre Graciele e Bernardo, o réu disse que os atritos entre eles decorriam das cobranças que ela realizava ao menino, relacionadas a questões do dia a dia, como desempenho escolar e tratamento dentário. Sobre a ida da companheira a Frederico Westphalen com o pretexto de comprar uma televisão (no dia 4 de abril de 2014, quando Bernardo foi levado junto, morto e enterrado em uma cova no interior daquele Município), Leandro afirmou que não sabia que o filho iria junto. Disse, ainda, que a compra na outra cidade seria realizada por uma questão de preço. No entanto, novamente questionado pelo MP, disse que não foi feita consulta de valores de aparelhos similares em Três Passos. Ainda, contrariando depoimento de testemunha, o réu disse que não falou com Graciele quando ela ligou para o consultório, naquele dia de tarde.

O réu disse que sabia que Bernardo teria combinado com uma antiga babá de passar aquele final de semana na casa dela, não tendo estranhado o fato de ele não ter ido lá. Disse que não viu Bernardo avisando aquela pessoa que não poderia ir na sua casa já na sexta-feira, a despeito de haver no processo prova no sentido de que Bernardo telefonou, próximo ao meio dia, do telefone celular do Leandro para avisar. Também, o réu disse que efetuou ligações para o telefone celular de Bernardo na sexta, no sábado e, também no domingo, tendo caído na caixa de mensagens. Ainda assim, só foi atrás dele no domingo.

Depois de não encontrar Bernardo no local onde ele supostamente estaria, o réu disse que fez alguns telefonemas e, depois, registrou ocorrência o desaparecimento. Disse que entendeu que apenas ligações eram suficientes, não havendo necessidade de efetivamente procurá-lo em algum lugar. O réu falou, ainda, que, naquele dia, depois do registro de ocorrência e das ligações, foi dormir, isso por volta da meia noite. O réu confirmou, ainda, que na segunda-feira após o registro do desaparecimento do filho realizou uma cirurgia eletiva (que não requeria urgência). Também, que pouco mais de uma semana após o sumiço do filho, esteve no aeroclube da cidade com amigos. Por fim, interrogado pela assistência de acusação sobre o motivo pelo qual se referiu ao filho sempre no passado em depoimentos e entrevistas quando o corpo do menino ainda não tinha sido encontrado, afirmou que era “mera conjugação verbal”.

Na sequência, foram interrogadas as rés Graciele Ugulini e Edelvânia Wirganovicz, que, após a leitura da acusação imputada a elas pelo Ministério Público, fizeram uso do direito constitucional de permanecer em silêncio e deixaram a sala de audiência sem responder qualquer pergunta da acusação ou defesa.

O último a ser ouvido foi Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, apontado pelo MP como o responsável por cavar o buraco onde o corpo de Bernardo foi depositado. Ele também negou participação nos crimes e alegou que, na noite de 2 de abril, quando a cova foi aberta, estava próximo ao local pescando. A Promotora Silvia Jappe quis saber o motivo pelo qual ele mentiu no primeiro depoimento à Polícia, quando disse que não esteve no local naquela noite. Evandro respondeu que sonegou a informação por medo de ser preso. Ele também foi perguntado acerca do depoimento de sua mulher, que disse que, após a prisão de Edelvânia, ficou “desconfiada”, em razão de o fato ter ocorrido no local e na mesma semana em que o réu havia ido pescar. O réu confirmou que ela o questionou sobre a pescaria, bem como que, conforme consta no depoimento dela, “só chorou”, não respondendo o questionamento de sua esposa sobre eventual envolvimento dele no crime. Segundo o réu, o choro se deu por “raiva” do que foi feito com a criança. Ainda, o réu disse à Promotora que tinha conhecimento de que sua irmã havia comprado um apartamento, bem como que sua mãe fez um empréstimo a fim de que ela pudesse pagar uma prestação do financiamento.

Os interrogatórios realizados nesta quarta-feira encerram a fase de instrução do processo criminal que apura a morte de Bernardo Uglione Boldrini. Agora, Ministério Público (autor da ação), Assistente de Acusação e as defesas dos réus Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz (seguindo a ordem constante da denúncia encaminhada pelo MP ao Judiciário), terão, cada um, sucessivamente, cinco dias para ficar de posse dos autos e apresentar suas alegações finais, os chamados memoriais. Por fim, o processo retornará concluso para sentença do Juiz, que terá 10 dias para emiti-la.



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