Caso Bernardo: mais sete testemunhas são ouvidas durante audiência em Três Passos
Durou aproximadamente sete horas a segunda audiência de instrução realizada em Três Passos do processo criminal relativo à morte do menino Bernardo Uglione Boldrini. Nesta segunda-feira, 8, foram ouvidas sete testemunhas arroladas pela acusação. A Promotora de Justiça Silvia Jappe representou o Ministério Público na audiência, presidida pelo Juiz de Direito Marcos Luís Agostini, e que também contou com a participação do Assistente de Acusação, Marlon Taborda, e dos Advogados de Defesa dos réus Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Evandro Wirganovicz e Edelvânia Wirganovicz, esta última presente durante parte dos depoimentos.
A primeira testemunha a depor foi a Coordenadora Pedagógica da Escola na qual Bernardo Boldrini estudava e mãe do colega na casa de quem ele teria ido supostamente dormir na sexta-feira em que foi assassinado. Ela relatou que não era comum o pai e a madrasta procurarem pelo menino e nem se inteirarem sobre as atividades dele. Por isso, ela disse ter estranhado o fato de Leandro Boldrini ter procurado por ela após o desaparecimento do filho. Conforme o relato, o Médico não demonstrava estar preocupado com a situação. A Professora também disse que ligou sete vezes para o telefone de Graciele após o sumiço da criança e que ela, igualmente, transparecia tranquilidade.
Na sequência, foi a vez da Secretária do Colégio responder aos questionamentos do MP e das Defesas. A mulher informou ser ela a responsável por ligar para o telefone celular do menino com o objetivo de acordá-lo para ir à aula. A Secretária ressaltou que no último contato que manteve com Bernardo, ele disse estar bastante feliz porque Graciele iria levá-lo para ganhar um aquário, antigo desejo da criança.
Logo em seguida, foi ouvido, separadamente, o casal na residência de quem Bernardo Boldrini passou grande parte dos últimos anos de vida. Ambos relataram que, em determinada situação, o menino permaneceu na casa deles por 15 dias ininterruptos, sem que o pai ou a madrasta ligassem para saber como ele estava. A mulher revelou que, após a audiência na Justiça na qual foi discutida a possibilidade de transferência da guarda de Bernardo, o menino referiu a ela que Leandro Boldrini exigiu dele um pedido de desculpas a Graciele. Esta, por sua vez, disse que aceitava desde que o menino se comprometesse a ir a uma benzedeira. Outro fato relatado, desta vez por seu esposo, é que no encontro que teve com o pai da vítima na Delegacia de Polícia, dois dias após o registro do desaparecimento de Bernardo, ele e a madrasta não demonstravam preocupação. O pai informou, inclusive, que naquela data, havia ido à Argentina (a divisa com o país vizinho fica muito próximo a Três Passos) realizar compras.
A quinta testemunha a depor foi a babá que cuidou de Bernardo Boldrini por mais de um ano, entre 2010 e 2011. Segundo ela, Leandro Boldrini e Graciele Ugulini sempre falavam mal da mãe de Bernardo, Odilaine Uglione, já falecida. Conforme a babá, em determinada situação, Graciele disse que o menino iria matar o pai de desgosto, como fizera com a mãe. Ela também relatou ter ouvido em outra oportunidade uma conversa do casal, supostamente sobre outra funcionária da residência, despedida anteriormente, de que “se ela abrir a boca lá fora a gente manda matar e cala ela”. A sexta testemunha foi também uma ex-babá de Bernardo, porém da época em que a mãe do menino ainda estava viva. Ela informou no depoimento que na sexta-feira na qual o menino foi morto, recebeu uma ligação dele, feita do celular do pai, informando que não iria mais na casa dela, conforme combinado anteriormente. No sábado ela disse ter procurado por Bernardo na sua casa e Graciele informou que ele havia ido para a residência de um amigo. No domingo, Leandro entrou em contato com a mulher para saber se Bernardo estava com ela e informou que o filho estava sem o celular que possuía.
A última testemunha a prestar depoimento nesta segunda-feira foi a Secretária que atuava na clinica médica de Leandro Boldrini. A mulher relatou que, após a audiência judicial sobre a guarda de Bernardo, Graciele Ugulini esteve no local bastante alterada e disse que “não aguentava mais o guri e teria como dar um fim nele”. Ela também fez um importante esclarecimento em relação ao receituário de medicamentos controlados de Boldrini. Conforme a Secretária, não era comum ele deixar receitas assinadas em branco. Uma que foi apreendida nessa situação pela Polícia Civil seria preenchida por ela e entregue a um paciente justamente no dia da prisão do médico. As demais receitas apreendidas não estavam assinadas, somente carimbadas. A Secretária informou, ainda, que após o desaparecimento da vítima, questionou Leandro sobre como proceder em relação ao agendamento de pacientes. Ele então disse que procurar a criança era trabalho da Polícia e que logo voltaria a atender normalmente.
Ao longo dos sete depoimentos, surgiram diversos relatos sobre os descuidos do pai e da madrasta com Bernardo Boldrini. Informações relativas, por exemplo, às roupas usadas pelo menino, muitas vezes curtas e sujas. O casal que acolhia durante grande parte do tempo o menino também informou que foi o responsável por providenciar as vestes e preparar uma festa para que a criança fizesse a 1ª Comunhão, uma vez que o pai e a madrasta sequer estavam em Três Passos na data, pois participavam de um evento social em outra cidade.
Na avaliação da Promotora de Justiça Silvia Jappe, os depoimentos desta segunda-feira foram importantes e corroboram a tese do Ministério Público sobre o envolvimento dos denunciados no assassinato de Bernardo Boldrini. Das 25 testemunhas arroladas pelo MP, já foram ouvidas 13, faltando ainda outras 12. Na sequência será a vez das testemunhas de defesa e, posteriormente, o interrogatório dos réus.